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Tradução Entrevista RM x Pharrell para Rolling Stone

WingsBrazilBTS 2022. 11. 1. 22:25

RM, está sentado em frente a Pharrell Williams no início de setembro, no palco em um auditório vazio e seguro no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, ele fica nervoso ao se encontrar do outro lado da equação. Parece "embaraçoso", diz RM com um sorriso, falar sobre sua jornada artística na frente de "meu próprio ídolo". 

 

Williams, eternamente jovem e de pele lisa (desnecessário dizer), está relaxado e cheio de conversa fiada, em uma jaqueta de couro, shorts de couro combinando, botas e um conjunto ofuscante de jóias cravejadas de gelo em um pulso. RM, em um terno marrom trespassado da Bottega Veneta, está mais quieto, aparentemente vasculhando as muitas perguntas que preparou em sua cabeça.

 

Mesmo antes dessa conversa, Williams e RM uniram forças. Como Williams revela, ele gravou recentemente uma música com o BTS, trabalhando remotamente, para seu próximo álbum. RM tem um álbum solo de estreia a caminho e, durante a conversa, Williams faz uma oferta atraente relacionada a ele.

 

RM: Eu só quero destacar [música solo de Pharrell de 2006] "Take It Off (Dim the Lights)". Porque isso estava em uma das minhas playlists. Eu até traduzi para o coreano e gravei uma vez quando era amador.

 

W: Wow! Isso é louco.

 

RM: Hoje em dia o gênero não significa nada. Mas naquela época, acho que alguns rappers criticavam os rappers que cantam ou usam o Auto-Tune. Às vezes você canta, às vezes você faz rap, às vezes você apenas canta o refrão. Então, como você se posiciona quando participa de uma música como intérprete?

 

W: Wow. Em 1° lugar, ninguém nunca me perguntou isso, acredite ou não. Eu tomo decisões baseadas no sentimento. Eu não os faço baseados em convenções.

 

RM: (Como) "Eu tenho que fazer rap", "Tenho que cantar".

 

W: Yeah, não (é assim). É apenas o que eu sentir que precisa. Então vou canalizar isso da melhor maneira possível, porque estou tentando dizer a alguém que é melhor do que eu para fazer isso. Muitas vezes, o que acontecia era que os artistas diziam: "Não, queremos que você faça isso" e eu fico tipo, "Não, mas é para essa pessoa". Canalizo o que sinto que está faltando e esqueço que serei eu. Porque se eu achar que vai ser eu, então não vai ser tão bom, e eu não vou ficar tão confiante. Por exemplo, há uma gravação que fiz com o Mystikal há muito tempo—

 

RM: Wow!

 

W: Yeah, "Shake Ya Ass", certo? Chad [Hugo] e eu produzimos juntos. Mas quando eu estava escrevendo aquele refrão, eu estava fingindo que Eddie Kendricks do Temptations poderia fazer isso. Lembro-me de dizer a eles: "Ah, cara, vamos chamar o cara do Temptations para fazer isso". E eles ficaram tipo, "Não, não. A gravadora quer que você faça isso". Foi essa coisa estranha onde comecei a perceber que meu ponto ideal é quando canalizo outras pessoas e me rendo ao que a música precisa e não deixo meu ego ou meus sentimentos se envolverem.

 

RM: Como equipe, estivemos na ONU e também conhecemos o presidente Biden. Nunca pensamos que essas coisas [aconteceriam], mas acho que naturalmente nos tornamos um dos representantes da comunidade asiática. Estou sempre pensando comigo mesmo: "Sou tão bom assim? Mereço todas as responsabilidades?" e estou realmente duvidando de mim mesmo. Ouvi dizer que você faz um monte de coisas para a comunidade. Então eu me pergunto como você lida com todas as responsabilidades de ser bom e moral.

 

W: Quero dizer, o trabalho [de caridade] que eu faço, sempre há uma circunstância ou eu diria alguma merda idiota e depois me arrependeria mais tarde, ou houve um tempo em que eu tenho um álbum que meio que afetou uma certa parte de um grupo demográfico. Então isso me fez pensar sobre as coisas de forma diferente e então eu vou montar uma [sem fins lucrativos] e agir contra a ignorância da qual eu fazia parte. Além de que eu me educo, me ilumino. Então, outras vezes, eu também faço isso por causa do que você acabou de dizer. Quando você se pergunta: "Cara, eu sou bom o suficiente?" ou "Eu mereço tudo isso?" Acho que o que torna mais fácil para mim dormir à noite é quando eu vou fazer esse trabalho. Ele me ajuda a responder a essas perguntas. É como, onde quer que houvesse um déficit em sua confiança de que você merece estar aqui ou recebendo esse tipo de admiração dos fãs, onde quer que esteja o menos, isso aumenta. 

 

RM: Espero que toda a minha confusão e esses pensamentos estúpidos ajudem minha vida a melhorar, [e eu possa] ser um adulto melhor para os fãs.

 

W: O que as pessoas não percebem é quando você tem literalmente centenas de milhões de fãs e você os encontra 100.000 de cada vez...

 

RM: Não consigo notar um único rosto. É apenas uma massa.

 

W: É uma energia enorme vindo até você, e você diz: "Pulem".

 

RM: Então eles pulam.

 

W: Então eles pulam. E você canta, e eles cantam cada palavra e você pode sentir através de suas vozes que muitas de suas vidas foram afetadas e mudadas por causa de algo que você fez. Eu não sei como você faz isso. Porque eu tive algumas músicas fazendo isso e então quando eu chegasse lá e cantasse, isso me faria chorar porque era muita responsabilidade. Cara, toda vez que eu chego tão perto disso, eu sempre dou um passo atrás.

 

RM: Por quê? É muito pesado?

 

W: É muito pesado, cara. É muita responsabilidade. É por isso que eu realmente reverencio pessoas como você e os membros da sua banda e outros artistas como Bey e Jay e até Kanye – tipo, cara, o que vocês vão lá e vão enfrentar todas as noites naquele palco? É humilhante e é esmagador. E às vezes seu sistema nervoso precisa ser construído para isso. Deixe-me perguntar uma coisa, como você lida depois de sair do palco, se sentindo eletrizado e chocado todas as noites, como você diminui a pressão?

 

RM: Minha 1ª apresentação foi na frente de 10 pessoas em alguns clubes pequenos quando eu tinha tipo 15 anos e eu esqueci a maioria das letras. Então, naquele momento eu percebi: "Oh, eu não sou um tipo de estrela. Eu não sou um desses frontmen que poderia curtir toda essa merda como Kurt Cobain ou Mick Jagger". Eu sou apenas um humano que ama escrever música. Por exemplo, tivemos esses shows em estádios em Las Vegas em abril passado. Foram 4 noites mas cada noite é um desafio. Depois que terminamos as 3 primeiras músicas, tiramos os fones de ouvido e ficamos como, "Estamos de volta porra" – a partir daquele momento, há uma personalidade diferente, um eu diferente pelas próximas 2 horas e meia. Mas antes disso, desde o ensaio e até no avião, eu fiquei muito, muito nervoso e me senti muito responsável, porque eu realmente sei que os fãs compram os ingressos e eles vêm do Brasil, do Japão, da Coreia, de todos os lugares. Eles vão para lá apenas por 1 noite. Então isso me enche/completa, como se eu tivesse que pagar de volta. Tenho de lhes oferecer a melhor noite das suas vidas. Então é uma bagunça e é muita energia. Eu sou um humano e eu realmente fico nervoso e às vezes eu realmente fico deprimido e até sou engolido por todas as energias. Mas eu tento lidar com isso porque eu amo a música. Eu amo o amor deles. Porque acho que o amor realmente acontece quando damos (amor) a alguém, não quando recebemos amor. Então, eu só quero retribuir a eles. Eles nos trouxeram de apenas uma pequena cidade na Coreia, de volta ao coração da indústria da música, Las Vegas, LA, Nova York. Eu tendo uma entrevista com Pharrell, isso pode acontecer por causa de fãs em todo o mundo. Estou sempre grato e não quero decepcioná-los.

 

W: Eu definitivamente tive minhas lutas com a falta de senso de propósito.

 

RM: Quando?

 

W: Por volta de [2006], quando lancei In My Mind. Assim que não fez o que eu queria - quer dizer, culturalmente impressionou, mas egoisticamente não funcionou do jeito que eu queria. Simplesmente não fazia o que eu estava acostumada na época e isso realmente me atingiu com força. Então, isso me fez começar a pensar em propósito e coisas que têm um DNA verdadeiro e não apenas um propósito estético, mas tem um verdadeiro significado real e algo que poderia ser significativo para as pessoas, mas ao mesmo tempo divertido. Além de que eu sempre amei as garotas, então isso sempre faria parte disso [risos]. Então eu entendo o que é isso. Eu sei como é chegar a esse ponto em sua carreira por qualquer motivo - e vocês estão indo bem, mas acho que pelo que estou ouvindo e pelo que estou entendendo, vocês atingiram um lugar onde estavam , "O que estamos fazendo? Quem somos nós? Somos quem dissemos que éramos?"

 

RM: Você está certo.

 

W: E quando você pensa sobre quem você é e pensa sobre o que você quer dizer e quais são suas intenções, isso também determina quem você quer ser. Quero dizer, como é isso? Tipo, onde você está nesse processo agora? Porque você está trabalhando em uma gravação solo, certo?

 

RM: Sim. Cerca de 90% do trabalho está feito. Já lancei algumas mixtapes como um dos membros da banda, mas foi só um experimento. Acho que desta vez talvez seja meu 1° álbum solo oficial. Mas faz uns 10 anos desde que fizemos nossa estreia como time. K-pop é tudo sobre a banda e os grupos. E como te disse, eu pessoalmente comecei minha carreira como rapper e como poeta. Então essa foi uma parte complicada na verdade, porque o K-pop é como uma mistura. É a mistura de música pop americana, outros visuais, Coreia e mídia social e outras coisas. É muito intenso e muito agitado. Portanto, tem alguns prós e contras próprios. Depois de 10 anos, acho que não era nossa intenção, mas na verdade nos tornamos uma espécie de figura social e aceitamos. Então, uma banda de K-pop vai fazer um discurso na ONU ou se encontrar com o presidente, acho que fiquei muito confuso e pensei: "O que sou eu, um diplomata ou o quê?"

 

W: Certo, sim.

 

RM: Eu era apenas um pequeno rapper e letrista quando era jovem. Então foram 10 anos muito intensos como equipe. E na verdade eu era responsável por quase todas as entrevistas e representava a equipe na frente dos outros membros. Esse era o meu papel, eu acho. Acho que consegui realmente... Eu não sei, "Ei, eu tenho que parar um pouco com isso. Eu tenho que desligar e me afastar e então ver o que está acontecendo", fazendo minha mente realmente se acalmar. Foi assim que consegui me concentrar no meu [álbum] solo. Esses dias eu realmente tenho pensado sobre quando eu escutei você pela 1ª vez, o 1° sentimento e a vibe, e a razão pela qual eu comecei, porque eu escolhi a música para toda a minha vida, eu acho. Quando comecei minha música eu tinha 14 anos e agora tenho 28. Então estou nesse processo. É realmente complicado e confuso e eu simplesmente não sei o que vai acontecer. Então, se você pudesse me dar algum conselho, porque é diferente do K-pop, mas você fez muitos projetos, como NERD, Neptunes e, claro, seu trabalho solo. Então, quaisquer pensamentos sobre...?

 

W: Neptunes, NERD e ter uma gravação solo realmente me ajudou, porque você faz uma coisa e depois faz uma pausa. Você faz outra coisa, então você faz uma pausa. E isso me permite colocar chapéus e máscaras diferentes. Então eu entendo isso e sei que ter essa partida vai se tornar realmente novo para você. Eu acho que é bom para você fazer isso porque quando você voltar para isso, para o grupo—

 

RM: Para a equipe.

 

W: Yeah, acho que vai ser super fresh. Quem são os produtores da sua gravação solo?

 

RM: Às vezes fazemos nossas coisas por conta própria e há uma equipe interna sempre trabalhando conosco na gravadora. Às vezes, pegamos nossas músicas de fora também. É flexível. Você produz às vezes com Chad ou sozinho, certo? É muito trabalho?

 

W: Para mim, é como Michelangelo quando fazia esculturas. Ele é apenas... e eu vou estragar tudo, mas a coisa toda dele era que ele estava apenas se livrando das pedras que estavam no caminho da escultura, algo nesse sentido. É a mesma coisa. Estou apenas esculpindo e adicionando camadas até sentir que está certo e então, se eu sentir que preciso de ajuda, vou procurar alguém. Meu ego atrapalharia quando eu era mais jovem, mas agora minha lealdade não é com meu ego.

 

RM: Isso é para o que?

 

W: É para a música. É como fazemos a música ser a melhor? É onde estou agora. E eu não quero fazer nada que pareça: "Ah, isso é legal, vai se encaixar". Não, eu não quero me encaixar. Quero derrubar o muro e incendiar o quarteirão inteiro. Não 1/4, o bloco (todo). Não a casa, o bloco (todo) em chamas. Eu quero que esteja no noticiário à noite. Ouvir: "O bloco está em chamas".

 

RM: Bloco em chamas. BOF (block on fire), bloco em chamas. Esse é um nome legal para uma marca, na verdade. Às vezes, enquanto eu cresço – e estou entre meu capítulo 1 e 2, como eu disse, o grupo e o solo; talvez eu esteja entre música e talvez arte [visual], entre isso. Então, às vezes eu realmente sinto medo, tipo, "E se eu não gostar mais de música?" Eu amo arte. Mas é um pouco diferente.

 

W: É.

 

RM: É. A música é como, está em toda parte. Estou triste, mas está em todo lugar. Às vezes eu realmente sinto medo – tipo, música, não é mais minha 1ª coisa, mais ou menos assim.

 

W: Yeah. Isso é temporário.

 

RM: Oh, sério? Estou aliviado.

 

W: Yeah. Então, de repente, você diz: "Whoa. Essa é a única coisa em que quero pensar". Isso vai acontecer.

 

RM: O que você ganha com artes visuais, belas artes?

 

W: Acho que para cada modalidade que temos, cada submodalidade que temos, ou seja, visual, olfativa, gustativa, cinestésica, auditiva, é praticamente a mesma coisa. Como com a comida, algo pode ter um sabor doce ou azedo. As coisas podem cheirar doce ou azedo. Visualmente, podemos ver algo que nos parece doce e algo azedo. Com o auditivo, podemos ouvir algo que é tão doce e tão agradável e então podemos ouvir algo como "Ooh, azedo", sabe? E então eu realmente me divirto trabalhando com artistas de diferentes disciplinas artísticas para determinar onde está a congruência. Tipo, "Oh, wow, esse é o seu doce. Oh, esse é o seu azedo". Sabe?

 

RM: Uma coisa divertida para mim com a arte visual é que quando escuto uma boa música, fico maravilhado, mas ainda assim, às vezes sinto muito ciúmes. [pode ser] muito, muito doloroso. Então é engraçado, né? Mas para a arte visual, não vou traçar uma única linha porque quero permanecer como um estranho. Mas eu sou um amante. Eu sou um fã, sou um maníaco. Então, quando olho para todas as pinturas e talvez esculturas, sinto-me realmente aliviado porque posso amá-las o máximo que posso.

 

W: Isso é incrível.

 

RM: Algum projeto novo para você?

 

W: Bem, meu projeto se chama... é [sob] meu nome, e o título do álbum é Phriends. É o volume 1. Vocês [BTS] estão lá, obviamente. E na verdade estou falando sobre isso muito mais do que deveria, mas é uma música do meu álbum que [BTS] cantou e é incrível, e estou super agradecido.

 

RM: Eu simplesmente amo essa música.

 

W: Eu também adoro.

 

RM: Porra, sim.

 

W: Todo mundo que ouve fica tipo, "Whoa".

 

RM: Eu adoro ela loucamente (ele usa fucking).

 

W: Eu amo ela, amo, amo. Mas eu só vou colocar ela lá fora (lançar). Você disse que está 90% pronto com seu álbum solo. Mas se dentro dos últimos 10%, se você precisar - você não precisa de mim, mas quero dizer...

 

RM: Eu sempre precisei de você, por 15 anos.

 

W: OK, bem, se você quer fazer alguma coisa, nós podemos fazer.

 

RM: Por favor.

 

W: Yeah, e você me diz o que quer. Rapidamente? Nós vamos rapidamente.

 

RM: Estou honrado e grato.

 

RollingStone: Pharrell, alguma palavra final de conselho para RM?

 

W: Quer saber? Eu diria apenas continuar a seguir em frente. Continue curioso. E não coloque nenhum tipo de pressão sobre o que você faz dizendo... Nada de absolutos, como "Oh, eu nunca mais vou fazer música" ou "Eu nunca vou...", eu não faria nada disso. Eu apenas—

 

RM: Sem nuncas.

 

W: Sem nuncas. Apenas fique junto para a caminhada. Apenas continue.

 

RM: Navegar sem destino

 

W: Yeah. E apenas veja onde você termina. Porque é realmente interessante.